Depois de um sábado divertido e um domingo de descanso,
sempre chega a sofrida segunda-feira. Se você, assim como eu, não tem o menor
talento para acordar cedo naturalmente, então você certamente terá dificuldades
para abrir os olhos e encarar os
compromissos do dia.
E para piorar a situação, sempre tem aquele toque
irritante do despertador que, em meio ao sono, nunca se sabe de onde vem e para
que serve. Então, se você é dos meus, você reúne toda a força que tem para
alcançar um único objetivo: apertar o botão “soneca”. A paz e o silêncio que
surgem logo em seguida parecem compensar o esforço e você já idealiza os
próximos cinco abençoados minutos de sono que poderá desfrutar sem a
inconveniência do despertador.
A sensação é de que estamos dando mais algum tempo para nosso
organismo realmente se recuperar e então poderemos levantar com toda a
disposição. Ledo engano. Se você também pratica o ritual matinal do botão
“soneca”, você sabe que fica cada vez mais difícil acordar. Logicamente, esse
tipo de comportamento influencia diretamente no funcionamento do nosso
organismo, então entenda melhor tudo o que acontece com o seu sono.
“Só mais 5 minutinhos”
Quando você começa a adiar a hora de levantar, o que você
realmente está fazendo é tornando o despertar ainda mais difícil. Caso você
venha a dormir novamente, o seu cérebro entrará no primeiro estágio do sono,
que é o pior momento para ser acordado. E saiba que quanto mais difícil for o
despertar, mais temos a sensação de que dormimos mal.
Uma das principais consequências de levantar muito cedo e
de forma abrupta é um efeito que recebe o nome de inércia do sono.
Batizado em 1976, esse fenômeno se refere àquele momento em que ainda ficamos
atordoados por algum tempo, no intervalo entre a hora em que despertamos e o
instante em que realmente estamos acordados e plenamente conscientes. Quando
mais abruptamente despertamos, mais severa é a inércia do sono.
Podemos até ter a impressão de que esse período passa
rapidamente, mas a transição entre o sono e a consciência é gradual e demorada.
As partes do cérebro que correspondem às funções fisiológicas básicas passam a
funcionar quase que imediatamente, mas a região cortical – que está relacionada
com o autocontrole e a tomada de decisões – demora muito mais tempo para ser
ativada.
Poucos minutos depois de despertar, a memória, as
reações, a atenção, o estado de alerta e até mesmo a habilidade de fazer
pequenas operações matemáticas não estão ativos. Uma prova disso é o fato de
tarefas simples – como abrir uma porta ou encontrar a luz do banheiro – serem
muito mais complicadas logo que nos levantamos.
A duração da inércia
Ao entendermos melhor o estado do nosso cérebro logo que
acordamos, fica fácil deduzir que esse não é o momento ideal para tomar
qualquer tipo de decisão racional. Justamente por causa da inércia do sono,
acabamos fazendo coisas que não deveríamos e a principal delas é acionar a
função soneca.
Um estudo da Escola de Medicina da
Universidade de Harvard descobriu que a inércia do sono pode levar de duas
horas a quatro horas para desaparecer completamente.
Atividades como tomar café
da manhã, tomar banho e entrar em contato com a claridade parecem não alterar
os resultados. Tudo isso indica que, não importa o que aconteça, nosso cérebro
só trabalha no seu próprio tempo.
Por outro lado, quando despertamos naturalmente, como
costuma ocorrer nas manhãs preguiçosas dos finais de semana, isso acontece por
conta de dois fatores: a quantidade de luz externa e as configurações do nosso
relógio interno – também conhecido como ritmo circadiano. Como nosso ritmo
interno não coincide com o tempo real, acabamos utilizando alguns recursos
externos que nos ajudam a simular as mudanças que ocorrem no dia a dia.
Os diferentes horários
A diferença entre nosso horário natural e biologicamente
determinado para acordar e o horário real e socialmente imposto em que nos
levantamos recebeu o nome de jet lag social. Esse efeito é calculado a
partir da regularidade do sono e não da duração.
Preocupados em entender se estamos realmente dormindo no
momento mais adequado para o nosso organismo, Till Roenneberg, professor de
cronobiologia da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, conduziu um levantamento e
descobriu que cerca de um terço da população sofre de jet lag social extremo,
com uma diferença média de mais de duas horas entre seu ritmo natural e o
horário socialmente determinado. Outros 69% das pessoas sofrem de maneira mais
branda e apresentam uma diferença de pelo menos uma hora.
Em mais um estudo, o pesquisador descobriu que o jet
lag social acaba tendo um alto preço: o aumento do uso de álcool, cigarros e
cafeína são algumas das consequências, além do crescimento de 33% no risco de
obesidade. “O hábito de dormir e acordar em horários ‘artificiais’ pode ser o
comportamento de maior risco na sociedade moderna”, afirma Roenneberg.
Segundo o cientista, a falta de regularidade no sono
sobrecarrega o organismo de tal maneira que essa é uma das principais razões
para que funcionários que trabalham no turno da noite apresentem índices
maiores que o normal no surgimento de câncer, condições cardíacas fatais e
outras doenças crônicas, como diabetes. Mais uma pesquisa realizada com alunos de
Medicina também mostrou que a regularidade do sono, mais do que a duração e a
qualidade, afetava o desempenho dos estudantes nas aulas e nas provas.
Como acordar melhor?
Felizmente, os cientistas já sabem que os efeitos da
inércia do sono e do jet lag social podem ser revertidos. Eles descobriram que
aquela desorientação matinal é resultado do acúmulo de melatonina – o hormônio
que regula o sono e costuma ser dissipado cerca de duas horas depois do
despertar. Por esse motivo, se conseguíssemos sincronizar nosso sono com a
claridade do dia, seria muito mais fácil levantar.
Como isso é praticamente impossível para a maior parte
das pessoas, a melhor maneira de começar o dia bem – e não como uma espécie de
sonâmbulo funcionando no piloto automático – é despertar no seu tempo. Acordar
devagar, sem a pressão e o incômodo do despertador e com a ajuda da claridade e
da biologia é a sua melhor chance de tirar seu cérebro do sono incontrolável e
trazê-lo aos poucos para a consciência. Sem contar que, quando acordados
plenamente, conseguimos aproveitar o máximo que nossas mentes podem nos
oferecer.
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