A busca pelos segredos do universo ganhará o que muitos
acreditam que seja seu maior capítulo a partir das próximas semanas. Em
Genebra, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) irá religar o maior
acelerador de partículas do mundo e, desta vez, com uma potência duas vezes
superior àquela que foi utilizada para descobrir o Bóson de Higgs - a partícula
elementar que dá massa a todas as outras -, um dos maiores feitos da história da
física.
Para os especialistas, ao apertar o botão para voltar a
dar energia ao acelerador, o que estará sendo feito é abrir uma nova fronteira
para a ciência. O acelerador, conhecido como LHC, custou US$ 8 bilhões e levou
mais de 20 anos para ser projetado e construído. Hoje, o túnel de 27 km que
fica situado cerca de 30 andares por baixo da cidade de Genebra e parte do
território da
França é considerado como um dos exemplos da cooperação
internacional.
Ao fazer prótons circular pelo túnel a uma velocidade recorde,
os cientistas promoveram choques para simular o que teria sido os instantes que
se seguiram ao Big Bang. Quatro aparelhos foram estabelecidos para detectar as
imagens desses choques, com até 40 milhões de fotos. A meta era a de tentar
identificar a origem do universo, uma das campanhas mais ambiciosas da ciência.
Apesar de confirmar a teoria de Higgs e de revelar
dezenas de outras novas informações sobre a origem da matéria, o projeto
frustrou alguns cientistas por não trazer outras novidades para o mundo da
ciência.
A opção em 2012, portanto, foi a de usar uma pausa já
planejada, suspender os trabalhos e desligar o acelerador. A pausa seria usada
para manutenção e para incrementar ainda mais a potência do que já era o maior
experimento da física.
Agora, as colisões de prótons vão ocorrer em uma energia
de 13 trilhões de eletro volts, algo jamais visto na ciência. A data ainda não
está fixada, mas seria entre o fim deste mês e abril.
O Estado visitou a sede do Cern, em Genebra, apenas para
constatar a impaciência dos cientistas para voltar a trabalhar na análise dos
choques. Para muitos, uma nova física pode surgir a partir dessas próximas
semanas e durante os três anos em que o acelerador vai funcionar na velocidade
projetada.
"No fundo, ninguém sabe o que esperar. Apenas
sabemos que será um momento histórico", declarou o diretor do Cern, Rolf
Heuer. "O mais incrível é que estamos abrindo uma nova fronteira e que
ninguém sabe dizer onde vai dar."
Uma das esperanças é de que as descobertas ajudem a montar
um quebra-cabeça que muitos consideram sem uma solução: a revelação da natureza
da matéria negra.
Cálculos baseados em interações gravitacionais entre
galáxias sugerem que há cinco vezes mais matéria negra no universo que matéria
comum, o que forma parte das coisas que podem ser vistas. O problema é que essa
matéria negra até hoje não foi detectada diretamente nem ninguém conseguiu
identificar suas características.
Ao repetir o momento posterior ao Big Bang, a meta é
justamente a de criar condições para que se possa identificar essa matéria
negra. Para conseguir isso, as partículas vão percorrer os túneis do acelerador
a uma velocidade superior à da luz. Ao colidirem, elas vão criar uma energia
recorde.
Cautela
Frédérick Bordry, responsável no Cern pelo acelerador,
deixou claro que o mundo não deve esperar resultados no curto prazo. "Não
vamos nos arriscar", disse. "Este ano será usado para preparar a
máquina e a meta é de que ela esteja em plena produção de resultados em 2016 e
2017."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Jamil Chade - Genebra
Via EmResumo
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